"Uma vida não basta apenas para ser vivida: também precisa ser sonhada."

sábado, 12 de maio de 2012

Sobre Jornais e Mulheres


Sempre sonhei com uma família tradicional, ilustrada perfeitamente pelo café da manhã: Papai tomaria uma xícara de café preto, por detrás do jornal (engraçado como associo jornais a figuras masculinas), indignado com a política, proferindo impropérios ao juiz que apitou o jogo do dia anterior favorecendo o time adversário. Enquanto mamãe, com seu suco de laranja e seu sanduíche integral, tentaria convencê-lo a se alimentar de forma mais saudável e a não se estressar tanto. Os filhos seriam instruídos a escovar os dentes e arrumar a mochila, depois de terem vencido a mãe que há muito desistiu de fazê-los comerem.

Hoje, eu seria feliz lendo meu próprio jornal, tomando meu café preto, seguido de um copo de suco de laranja com sanduíche integral, enquanto a filhota escova os dentes e arruma a mochila depois de ter tagarelado sobre o dia anterior ao invés de comer. Não é que eu tenha perdido as esperanças de fazer parte de uma família daquelas. Mas, considerando a realidade atual, a família teria de ser uma releitura de tal modelo.

Papai teria que dividir comigo o jornal. E a cafeína. A indignação com a política e o futebol também teria que ser compartilhada. O meu jornal provavelmente não me esconderia, a fim de que eu pudesse ouvir as tagarelices dos filhos e travar a batalha da comida, dos dentes e da mochila.

As mulheres contemporâneas estão prontas para assumirem papéis ditos masculinos, mas não parecem conseguir se desvencilhar dos papéis tidos como femininos. Queremos nos lançar no mercado de trabalho, estudar, nos manter atualizadas em toda a sorte de assuntos – desde o futebol, passando pela política, até as passarelas mundiais – ser engajadas sócio ecologicamente, manter uma vida social saudável, cuidar das crianças, da casa e de nós. Ufa! Deve ser daí que surge o conceito de supermulher.

Ai de quem nos diga que somos humanas e não podemos nos exigir tudo isso, pois não conseguimos... “Ah, não consigo, é? Pois então senta e assiste. E passa pra cá o jornal, pois o dia, hoje, é cheio!”

terça-feira, 26 de abril de 2011

Do Sexo Frágil

Sentada na janela, cigarro entre os dedos, queimando em vão. Taça de vinho na outra mão, ela pensa na noite que ainda não acabara.

No cd player rodava qualquer música de um rapper americano qualquer. Entre os cd's, na estante, Maria Rita. Estava para pegá-lo quando um homem entrou na sala "é da minha mulher.". Prontamente, devolveu o cd ao seu lugar e sentou-se no sofá, acompanhando-o.

Aceitou seu drink, pegou um cigarro e o isqueiro e, novamente, ouviu a voz masculina "a minha mulher não gosta que fumem aqui dentro..." e devolveu também estes aos seus lugares.

Ele começou o papo. Ela chegou mais perto. Ele deu-lhe um beijo tímido. Ela puxou um beijo quente. Ele ia devagar. Ela apressava as coisas. Depois do ato consumado, ele trocou o cd, outro qualquer, e foi trocar de roupa - aquela iria direto para a máquina, a mulher não podia desconfiar do cheiro.

Ela sabia onde era a porta de entrada. Que também era de saída.

Agora, sentada na janela, fumando um cigarro e tomando uma taça de vinho, ela ria-se, imaginando o homem, patético, voltando à sala, de roupas limpas, a procurar vestígios que a querida mulher pudesse encontrar.

Homens. Tão fortes...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Os Outros

Tu já parou pra pensar nos "outros"? Aqueles que nos rodeiam sem que percebamos... Pois eu acho isso fascinante.


No ônibus, indo para o trabalho, escola ou para o shopping, centenas de pessoas passam por ti. Lá fora, na rua, nas janelas das casas e prédios ou mesmo dentro do próprio ônibus.

Podemos mudar de cenário: o metrô, o avião... Ou quando tu dirige teu carro, anda de bicicleta e mesmo a pé. Eles estão lá. Pequenas pessoinhas, formiguinhas, seguindo com suas vidinhas.

Elas nada têm a ver com a tua vida, estão lá como que para completar a paisagem. São figurantes do filme da tua vida. Tu protagoniza histórias de romance, aventura, comédia, drama... Por que não dizer suspense, terror ou ação?

Mas o que eu acho realmente fascinante é imaginar que cada figurante protagoniza seu próprio filme. E que tu e eu, somos figurantes das histórias deles.

Um deles pode estar indo encontrar um grande amor, um outro estar indo visitar um parente no hospital, e tem mais um que pode, simplesmente, estar seguindo em mais um dia de trabalho... E tu é que está apenas completado a paisagem.

Mais do que essa filosofia barata, isso nos deveria por pra pensar. Pensar no respeito mútuo. Imaginar que essas pessoas também têm vida própria, que elas podem estar passando por momentos diferentes dos nossos, deve nos ajudar a sermos mais tolerantes.

Tu já parou pra pensar nos "outros"? Pare. Talvez valha a pena!

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Post antiiiigo, mas hoje dedicado à Carol. *.*

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Filhos. "Melhor não tê-los. Mas se não os temos..." Melhor não tê-los?

Vendo um post da minha afilhada (meu deus, que lindo isso!), Mel, confesso que fiquei meio assustada. Como assim vocês não querem ter filhos? Não me entendam mal, eu compreendo que hajam pessoas que não queiram ter filhos. E aceito isso. Sem problema nenhum. Mas eu não posso conceber que certas pessoas não tenham filhos. Porque são pessoas incríveis. De valores impressionantes e educação sem igual. Valores e educação que precisam ter continuidade, mesmo depois de suas partidas.

Porque a vontade de ter filhos, de pessoas maduras (que não sejam meninas de 15 anos querendo uma bonequinha para brincar), é, no íntimo, uma perseguição da imortalidade. Todos morremos. O ser humano tem uma dificuldade absurda para lidar com essa verdade. Quando temos filhos, os criamos à nossa semelhança (sim, brincamos de Deus - católico). Passamos adiante nossos valores, nossas crenças, nossa visão.

Vemos nesses pequenos seres, uma continuação de nós mesmos. Têm traços psicológicos, emocionais e comportamentais semelhantes aos nossos. E, quando biológicos, são parecidos até fisicamente conosco (que mãe/pai nunca morreu de orgulho ao ouvir "é a tua cara", e nunca teve crises de desgosto ao ouvir "mas é a cara - do outro"?).

Depois de termos filhos, temos a certeza de que uma parte de nós fica no mundo quando o deixamos. Conscientemente, compartilhamos o melhor de nós. Inconscientemente, compartilhamos, também, o pior. Vemos, neles, uma segunda chance. De nos consertarmos. Deixamos (tentamos deixar) os defeitos de lado, e ensinamos o que gostaríamos de ser. "Te comporta!" "Te senta direito!" "Não bate no colega!" (Quem nunca quis bater no colega? Ou no vizinho? Ou no marido/esposa? Ou num desconhecido, mesmo?) "Vai estudar!" E por aí vai... Inúmeras vezes ouve-se de uma mãe/pai "Eu não tive oportunidade de [...], então quero que meu filho possa fazê-lo/tê-lo/sê-lo".

Sempre achei "fazer" filhos um ato completamente egoísta. Sim. Eu. Ironias. Mas, ninguém adota uma criança por achar estar fazendo bem para a criança. Ninguém adota uma criança para tirá-la dos abrigos desumanos, dos maus-tratos. Ninguém adota uma criança por pensar na injusta vida dela, sem amor de pai/mãe. As pessoas adotam crianças porque querem ter filhos. Fazem-no através de adoção talvez por todos esses motivos e/ou outros mais. Mas o primeiro passo para a adoção é, sim, egoísta.

Aquela busca pela imortalidade. Aquela ânsia de viver na Terra, mesmo depois da morte. Aquela crença em uma segunda chance. Estão presentes em qualquer tipo de paternidade/maternidade. Temos filhos (ou os queremos) por nos amarmos o suficiente para acreditarmos que merecemos.

Filhos somos nós. Melhorados. Fora de nós, para que possamos ver melhor os defeitos, e tentar corrigi-los. E para que possamos morder, beijar, amassar, cobrar tudo isso e fazer chantagem emocional mais tarde. rsrsrsrs

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Numb

Sentada no ônibus, cabeça pendendo sobre a mão cerrada. Olhos entreabertos, não conseguia dormir. Deixara o carro em casa, não queria dirigir.

Naquela manhã, na ida ao trabalho, hora de pico, olhos curiosos a fitavam. Vestido preto, justo, na altura dos joelhos, scarpin e maquiagem sóbria, não se encaixava na paisagem.

Agora, já tarde da noite, atirava-se em um dos muitos bancos vagos, sozinha a fitar o nada. Tentava ler alguns dos poemas, afixados nas janelas. Normalmente, lhe causavam estranheza. Muitos foram motivo de riso, outros despertavam pensamentos profundos. Agora, nada. Sentia-se dormente. Tentara olhar para os poucos viajantes, que embarcavam e desembarcavam, na esperança de que alguém lhe fizesse sentir algo. Qualquer um. Qualquer coisa. Ninguém para salvá-la.

Deixou passar sua parada. Mais uma. E mais uma. Desceu no fm da linha. Fez o caminho de volta a pé. Os pés não doíam. Passou em frente a sua casa. Seguiu até o bar da outra quadra. Um whisky, por favor. Não suportava whisky. Mais uma dose, por gentileza. Mais uma dose e uma carteira de Malboro Light... Vermelho! Malboro Vermelho. Obrigada.

No portão de casa, vasculhava a bolsa cor de vinho, par com os sapatos. Não encontrou a chave. Encontrou o celular.

Quarenta minutos depois, o chaveiro abria a última fechadura da última porta, olhando as panturrilhas bem torneadas da morena. Ela ofereceu-lhe um drink. Um café? Quem haveria de tomar café a essas horas? Quem sabe uma água?


Assinou o cheque, estendeu a mão para pegar de volta o copo. Seria ele a me salvar?

Insistiu no drink. "Uma cervejinha cairia bem..." Cerveja não tinha. Um vinho talvez? "Só uma tacinha não vai atrapalhar." Foram quatro. Ela o acompanhou, com uma. Servia o homem e fingia beber no mesmo ritmo.

O levou para a sala principal. Ele quis levá-la para o quarto. O quarto é meu. Meu canto. No quarto não... Convenceu sem dificuldades, sem palavras, a ficarem por ali.

"Boa noite senhora." Senhorita. "Desculpe. Boa noite". Boa noite.

Enxeu a banheira. Acendeu as velas. Apagou a luz. Olhos entreabertos. Não conseguia dormir.

Zapeava os 80 canais da televisão a cabo. Lia a mesma página do livro pela sexta vez. Trocava as estações do rádio, sem nada ouvir. O sol raiou.

Vestiu uma calça social, camisa de botões, jóias, maquiagem, sapatos, trocou a bolsa, achou as chaves originais.

Checou os e-mails, as notícias, a agenda. Tomou um suco de laranja, uma xícara de café - preto, sem açúcar, abasteceu a vasilha do gato, passou o perfume, pegou a chave do carro. Devolveu a chave ao seu lugar.

Na rua, caminhava em direção ao ponto de ônibus.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Eu e o Haiti

Sexta feira foi um dia muito bom e muito estressante pra mim...

Saímos, eu e Isadora, à tarde, arrumei a casa e a mantive bem arrumada (quem me conhece sabe a dificuldade que há nisso hehehe). Mais tarde desci com a pequena. Fomos ao CTG, na esquina, pra que ela dançasse. Em casa, a pestinha resolveu encapetar de vez, desobedecer a tudo e todos. E o Leonardo, que começou o dia um gentleman, acabou como um perfeito canalha.

Quando consegui descansar, finalmente, fiquei zapeando os canais da NET. Vi que um deles transmitia o show "Hope for Haiti Now". Decidi deixar ali mesmo, afinal não tinha nada melhor na TV e eu adoro música...

Ainda braba com o Léu, pensando se vai rolar a grana pra praia no carnaval... enfim, super frustrada e de mal com a vida, parei pra ouvir aquelas histórias [de força, persistência e superação]. Comecei a ficar braba comigo mesma. Mas também com todos os seres humanos privilegiados (ou, pelo menos, 90% deles) - como eu.

Como podemos simplesmente seguir com nossas vidas de futilidades? Por outro lado, não devemos seguir com as nossas vidas?

A pior parte é que, independente da quantidade e da extensão das tragédias, nós sempre seguiremos. E essas coisas não acontecem apenas em outros continentes, ou mesmo em países vizinhos. Há pessoas sem casa, sem abrigo, sem comida e sem medicamentos nas nossas cidades! O que fazemos, efetivamente, para melhorar as vidas dessas pessoas? Nós sabemos reclamar, com certeza... Mas como mudamos o lugar onde vivemos?

Começando por baixo, convido-os a entrar no site www.hopeforhaitinow.org e doar qualquer quantia. "A hole lot of littles is a hole lot of lot."

Para finalizar, deixo um vídeo pra reflexão:




p.s.: Leonardo leu o texto e foi lá esquentar janta pra mim, pra me agradar... hehehehehe
p.s.2: Comentem! Votem (sinceramente)!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A Vida e a Prova do Concurso

Cerca de 117 mil brasileiros acordaram cedo nesse domingo, 17. Esse tanto de gente levantou da cama para prestar o concurso do Banrisul. E eu fui uma delas. Resolvi fazer a prova, só para ver, mesmo, como é e tal... Dizem que é bom ter experiência em concursos, né. Um dia a gente passa... Mas saí de lá com uma sensação esquisita... Se eu tivesse estudado mais, talvez tivesse passado. Mas algo que me deixou indignada (comigo mesma) foi a maldita folha óptica! Logo na segunda questão da prova, questão que eu realmente sabia, eu marquei errado na [maldita!] grade de respostas.
Como boa maluca que sou, comecei a pensar na vida. Dei umas rabiscadas na prova e decidi escrever no blog. Pensava eu que a vida é mais ou menos como uma prova de concurso. A gente se prepara, se prepara... Pensa e repensa no assunto... Mas no fim, na hora de realmente fazer, algo pode sair errado. E não há como voltar, apagar, corrigir.
Mas, na realidade, não é assim que a vida é, certo? Ok, ok, não podemos voltar no tempo e não podemos, mesmo, apagar o que fizemos. Mas nós podemos, sim, corrigir. Pegar a folha óptica, riscar a questão errôneamente marcada, escrever um "perdão" para a máquina que corrige a grade, marcar a questão certa. Porque, na vida real, não há máquinas por detrás das coisas... Há pessoas. Máquinas não entendem subjetividade. Não entendem que nós podemos errar, simplesmente em marcar a questão... As pessoas entendem (ou deveriam entender), não é mesmo? Ao menos, podemos tentar.
É necessário um pouco de humildade. Deixar o orgulho de lado. Admitir que não se é uma máquina e sim uma pessoa, dada a erros. Não dizem que errar é humano, e persistir no erro é burrice? Então sejamos mais humanos e menos burros. Sem arrependimentos!