"Uma vida não basta apenas para ser vivida: também precisa ser sonhada."

sábado, 12 de maio de 2012

Sobre Jornais e Mulheres


Sempre sonhei com uma família tradicional, ilustrada perfeitamente pelo café da manhã: Papai tomaria uma xícara de café preto, por detrás do jornal (engraçado como associo jornais a figuras masculinas), indignado com a política, proferindo impropérios ao juiz que apitou o jogo do dia anterior favorecendo o time adversário. Enquanto mamãe, com seu suco de laranja e seu sanduíche integral, tentaria convencê-lo a se alimentar de forma mais saudável e a não se estressar tanto. Os filhos seriam instruídos a escovar os dentes e arrumar a mochila, depois de terem vencido a mãe que há muito desistiu de fazê-los comerem.

Hoje, eu seria feliz lendo meu próprio jornal, tomando meu café preto, seguido de um copo de suco de laranja com sanduíche integral, enquanto a filhota escova os dentes e arruma a mochila depois de ter tagarelado sobre o dia anterior ao invés de comer. Não é que eu tenha perdido as esperanças de fazer parte de uma família daquelas. Mas, considerando a realidade atual, a família teria de ser uma releitura de tal modelo.

Papai teria que dividir comigo o jornal. E a cafeína. A indignação com a política e o futebol também teria que ser compartilhada. O meu jornal provavelmente não me esconderia, a fim de que eu pudesse ouvir as tagarelices dos filhos e travar a batalha da comida, dos dentes e da mochila.

As mulheres contemporâneas estão prontas para assumirem papéis ditos masculinos, mas não parecem conseguir se desvencilhar dos papéis tidos como femininos. Queremos nos lançar no mercado de trabalho, estudar, nos manter atualizadas em toda a sorte de assuntos – desde o futebol, passando pela política, até as passarelas mundiais – ser engajadas sócio ecologicamente, manter uma vida social saudável, cuidar das crianças, da casa e de nós. Ufa! Deve ser daí que surge o conceito de supermulher.

Ai de quem nos diga que somos humanas e não podemos nos exigir tudo isso, pois não conseguimos... “Ah, não consigo, é? Pois então senta e assiste. E passa pra cá o jornal, pois o dia, hoje, é cheio!”